2008-07-09

Dona Rosinha

Ontem, terça a noite, fiquei até um pouco mais tarde acordado, vendo o Profissão Repórter, da Rede Globo, um dos (poucos) programas jornalísticos que valem a pena ser vistos. Nele, vários jovens repórteres, sob a batuta do Caco Barcellos, se dividem em várias frentes, tendo um tema em comum.

No programa da última terça o tema foi Sexo, mais especificamente a indústria que gira em torno do sexo. Além de mostrar os bastidores de um filme pornô, a história de uma família que cuida de um cinema pornô e a situação de prostitutas de beira de estrada, aqui de Santa Catarina, o programa contou uma história emocionante.

Dona Rosinha, aos 73 anos, cabelos brancos, marcas do tempo visíveis tanto no rosto quanto na fala e na alma, ainda tenta ganhar a vida no centro de São Paulo, fazendo programas. Veja o vídeo abaixo, que mostra a segunda parte do programa, e me diga se você não sentiu o estômago levando um murro:



Além do vídeo, olhe o que a Gabriela Lian, a repórter responsável por essa "frente" do programa, ao lado do Felipe Gutierrez, diz no site:

Jeito de vó, doçura de vó, muito parecida com muitas vovós que eu conheço. Poderia ser a minha, inclusive. Algumas semanas de gravações, algumas tardes com ela e ainda não acredito que Dona Rosinha faça programa. Mas ela faz. Como pode? Essa senhorinha fofa tinha que ter uma velhice mais digna. Não tem.

Ela mora num barraco úmido, que fica sobre um córrego, no meio de uma favela da Zona Norte de São Paulo. Nossa presença a envergonhou perante os vizinhos e ela pediu que eu guardasse a câmera dentro da mochila. Sua situação também a envergonhou. A todo momento, ela pedia desculpas por não ter limpado a casa pra nos receber. Acho que o Felipe também estava com vergonha. Percebi que ele queria perguntar algumas coisas, mas não sabia como - muito mais fácil entrevistar um pedreiro, por exemplo, e pedir para ele nos dizer como faz para levantar aquele prédio, não?

É delicado entrar assim na vida de alguém cuja intimidade é algo tão público e tão velado ao mesmo tempo. As pessoas não sabem de sua profissão. Não sabiam… Agora, quem passa na Praça da Sé vai olhar de uma outra forma para aquela doce velhinha encostada na banca de jornal. Acredito que ela será mais ajudada do que apedrejada e é por isso que insistimos na gravação. Afinal de contas, minha indignação quando ouvi de Dona Rosinha que ela ainda não se aposentou porque não tem R$ 15,00 para regularizar seu CPF não pode ser só minha.


Como muitas pessoas deixaram comentários e enviaram mensagens, oferecendo ajuda a Dona Rosinha, no site do programa eles colocaram o contato da Pastoral da Mulher Marginalizada, uma instituição que ajuda mulheres em situação semelhante a de Dona Rosinha.

Agradecimentos a B., que também postou esse vídeo no seu post: Dona Rosinha, 73, prostituta desde os 17, o que me avisou que o vídeo da reportagem já estava disponível (é, ele não vai ao ar logo depois do programa na TV terminar).

UPDATE: O destino da Dona Rosinha neste post.

2 comentários:

disse...

Eu queria ter visto, mas é muito tarde e eu estava com muito sono.

Mas é um absurdo um país que não dá condições dignas ao seu povo.

Bjo

Lomyne disse...

Pois sabe que também mexeu muito comigo aquela reportagem? Até postei sobre isso hoje cedo. Veja lá, não estamos desorganizados nas pautas...