2011-08-09

Sobre pênis explosivos de patos e vaginas de vidro de patas - tradução de Kinkiness Beyond Kinky

Há algum tempo atrás, Carl Zimmer, um escritor especializado em escrever matérias sobre ciência, publicou em seu blog The Loom um post muito interessante sobre como uma força evolutiva, o conflito sexual, fez com que certas espécies de patos desenvolvessem órgãos sexuais muito estranhos.

Como achei o artigo extremamente interessante, resolvi traduzi-lo e colocá-lo aqui. Os grifos são meus:

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Kinkiness Beyond Kinky (Algo como "Perversão além do pervertido").

Chega uma hora em toda carreira de um escritor sobre ciência em que ele deve escrever sobre vaginas de vidro de patas e pênis explosivos de patos.

Essa hora é agora.

Meu conto é rico em profundos significados científicos, resplandecente em ideias surpreendentes de como a evolução trabalha, muito além das banalidades da "sobrevivência do mais apto", em um reino da vida onde seleção sexual e conflito sexual trabalham como um par de escultores bêbados em absinto, transformando biologia em formas inimagináveis. Mas esta história também é acompanhada de vídeos. Vídeos de sexo de patos em câmera lenta e alta definição. E eu imagino que a visão de pênis de formato espiral inflando em menos de um segundo pode ser considerado em alguns lugares, não exatamente apropriado para ser visto em ambientes de trabalho. Certamente não é apropriado para patinhos.

Esta história é na verdade uma sequência. Em 2007, eu escrevi no New York Times sobre o trabalho de Patricia Brennan, uma pesquisadora pós-doutoranda de Yale, e seus colegas sobre a estranheza de genitais de patos. A história completa está aqui (link para o NYT em inglês). (Brennan também apareceu em um documentário da Nature, mais ou menos em 38:35).

Resumidamente, Brennan queria entender por que alguns patos têm pênis tão extravagantes. Por que eles são de formato de parafuso? Por que eles são tão ridiculamente compridos - em alguns casos, tão longos quanto o corpo inteiro do pato? Conforme Brennan dissecava os pênis dos patos, ela começou a se interrogar como seria a anatomia sexual da fêmea. Se você tem um carro como este, ela disse, em que tipo de garagem você estaciona?

Brennan descobriu que patas têm tratos reprodutivos (chamados ovidutos) igualmente estranhos. Em muitas espécies, eles são ornamentados com vários bolsos. E como os pênis de patos, os ovidutos de patas têm formato de parafuso. Mas enquanto os pênis se curvam em sentido horário, os ovidutos das patas são em sentido anti-horário.

Brennan especulou que toda essa anatomia bizarra é o resultado de uma forma de evolução peculiar, chamada de conflito sexual. Uma estratégia que permite às fêmeas reproduzir a maior cria possível pode não ser boa para os machos, e vice-versa. Por exemplo, moscas da fruta machos injetam nas parceiras muitas substâncias químicas durante o sexo, e essas substâncias as fazem menos receptivas a outros machos, aumentando assim as chances de fecundação dos ovos dela. Mas essas substâncias químicas são fortes e fazem a mosca fêmea ficar doente. As fêmeas, por sua vez, têm desenvolvido defesas contra essas substâncias, amenizando seus efeitos.


Com muitos exemplos de conflito sexual na natureza, Brennan se perguntou se o conflito sexual entre patos e patas estava originando seus estranhos genitais. Patas se juntam a parceiros machos para a temporada de acasalamento, mas elas também são assediadas por outros machos, às vezes sendo forçadas a fazer sexo (e algumas vezes morrendo nesses ataques). Um terço de todos os acasalamentos de patos são forçados.

Ainda assim, apenas 3% dos patinhos que as fêmeas produzem vêm desses encontros. Brennan especulou que as patas poderiam bloquear cópulas forçadas com suas espirais ao contrário. E elas também poderiam controlar qual pato fertilizaria seus ovos jogando o esperma de diferentes cópulas em diferentes bolsos. E os pênis extravagantes dos machos podem ser resultado de uma evolução para driblar essas defesas.

Como eu relatei em 2007, Brennan descobriu um padrão que suporta esta hipótese. Dentre 16 espécies de aves aquáticas (como cisnes, patos, etc), nas espécies em que nos machos cresciam longos falos, as fêmeas tinham mais curvas em seus ovidutos e mais bolsos laterais. Os patos estavam numa corrida armamentista, genital por genital.

Mas Brennan não sabia de fato como os pênis de patos se moviam realmente pelo labirinto do oviduto, e como o formato do oviduto poderia afetar a entrega do esperma do pato. Então, ela trocou compassos e réguas por vídeos de alta velocidade.

Brennan e seus colegas viajaram para uma fazenda de patos na Califórnia, onde os trabalhadores são peritos em coletar esperma dos patos. O primeiro passo nesta coleta é deixar o pato excitado colocando uma pata na sua gaiola. O pato sobe em cima dela e então o pênis emerge. Antes disso, o pênis do pato é geralmente completamente invisível a um observador, encolhido dentro do seu corpo, como uma meia dobrada do avesso em si mesma. Patos mostram seus pênis de maneira diferente a dos mamíferos. Em mamíferos, o pênis se torna ereto conforme o sangue flui para dentro do tecido esponjoso. Patos, ao invés disso, bombeiam fluído linfático. Conforme o fluído entra no pênis, este não se incha simplesmente. Ele se inverte expandindo.

Aqui embaixo é mostrado como isso acontece, em câmera lenta. Um pato Muscovy (Cairina moschata) expande seu pênis em cerca de um terço de um segundo, a velocidade de 1,6 metros por segundo.

Eversion in air: from blogs.discovermagazine.com/loom from Carl Zimmer.


É claro, patos não se acasalam com o ar. Tendo feito este vídeo, Brennan ainda precisava de um jeito de ver como um pênis de pato se comporta de verdade, exercendo a sua atividade. Incapaz de filmar pênis de pato em um oviduto de uma fêmea real, ela construiu um oviduto falso de silicone. Então ela fez o pato se acasalar com ele. Mas a esmagadora força do pênis explosivo quebrou o oviduto falso.

Então Brennan construiu um de vidro. Os novos ovidutos falsos eram fortes o suficiente para aguentar os patos, e ela começou a filmar. Aqui está o que ela viu:

Eversions in barriers / from blogs.discovermagazine.com/loom from Carl Zimmer.


Como Brennan previu, o oviduto com voltas anti-horário reduziu a expansão do pênis do pato, comparado com um tubo reto ou um com voltas em sentido horário. Brennan suspeita que as patas retardem os machos que tentam uma cópula forçada, mas elas também deixam os pênis de seus parceiros se moverem mais rápido no oviduto. Elas foram observadas relaxando e contraindo os músculos em volta ao oviduto.

As patas não podem parar um macho não convidado de jogar o seu esperma, mas os obstáculos em seus ovidutos podem dar a elas algum controle sobre o que acontece com aquele esperma. As fêmeas podem usar os seus ovidutos para retardar a expansão dos pênis, para que na hora em que o pato ejacule, o esperma seja depositado nas partes mais abaixo do oviduto. Com o esperma, requisitado ou não, colocado em diferentes lugares do oviduto, uma pata também pode guardar o esperma em diferentes bolsos. E então ela pode escolher qual macho será o pai de sua prole. Mesmo com toda a explosão que os patos machos podem mostrar, é a fêmea que tem a palavra final.

P.S. (Momento propaganda do autor original): Eu conto a história de Brennan em mais detalhes em meu novo livro, The Tangled Bank: An Introduction to Evolution. Essa história abre o capítulo sobre sexo - onde eu mostro que o mesmo processo que explica esses estranhos genitais explica muitas outras coisas na natureza.

Referência: Patricia L. R. Brennan et al, "Explosive eversion and functional morphology of the duck penis supports sexual conflict in waterfowl genitalia," Proceedings of the Royal Society of London, doi: 10.1098/rspb.2009.2139

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Texto original neste link: The Loom - Kinkiness Beyond Kinky.

10 comentários:

Anônimo disse...

WTF??

Anônimo disse...

quem que vai ler um texto tao grande sobre penis de patos?

Anônimo disse...

quem que vai ler um texto tao grande sobre penis de patos?(2)

Andarilho disse...

"quem que vai ler um texto tao grande sobre penis de patos?"

Pessoas curiosas e não aquelas que chegaram aqui querendo sacanagem. (Mas tb tem sacanagem aqui, basta procurar aí nas tags).

Antônio Eriveudo disse...

Alguém leu pelo menos o primeiro parágrafo?

Jess disse...

eu li o texto inteiro e achei super interessante! gente preguiçosa é um problema, não? parabéns ao autor!

Biah Wenzel disse...

eu li o texto inteiro e achei super interessante! gente preguiçosa é um problema, não? parabéns ao autor! [2]

adorei! ótima tradução também ^^
e não ligue pra esses trolls ;D

Anônimo disse...

exelente matéria para escola!!!
até a cria ção demosntra que Deus é perfeito e organizado. sem ofender o asno mas até onde eu sei o homem é o unico ser que controla sua fêmea na hora da relação.
parabens mesmo ao que postou este artigo.( só foi judiação enganar o coitado do pato rsrsrsrs)

Ely Tocchio disse...

Parabéns pelo artigo bem traduzido e a ideia em fazê-lo. Estou exactamente a fazer um projecto de investigação sobre os patos e seu comportamento sexual. Foi de grande ajuda esse conhecimento.
Valeu!

Andarilho disse...

Obrigado.